É tempo de se questionar a segurança na Stock Car Brasil. A maior categoria de automobilismo no país evoluiu muito nos últimos 5 anos. Transformou-se em um espetáculo do marketing, virou sucesso de público, trouxe de volta nomes que passaram recentemente pela F-1 e os seus carros ficaram cada vez mais velozes. Tudo isso é muito bom, mas e a segurança?
Neste domingo, a categoria testemunhou uma tragédia. A morte do jovem piloto Rafael Sperafico em Interlagos chocou a todos no mundo do automobilismo e fora dele. A força dos dois impactos e o estado em que ficou o que sobrou do carro de Rafael pareciam cenas de filme de terror na TV.
Sempre que ocorre um fato chocante como esse, as pessoas começam a se questionar. Algo poderia ter sido feito para evitar a tragédia? De quem é a culpa? Os carros das 3 categorias da Stock Car são realmente seguros?
A forma com que o carro espatifou-se no muro e retornou para a pista, ficando vulnerável a receber outros choques nos fazem ter certeza de que a Curva do Café em Interlagos necessita de mudanças. A barreira de pneus localizada no muro de proteção proporciona um choque totalmente elástico, principalmente para um carro de turismo com massa maior que a de um monoposto. Essa situação de batidas e retorno de pista repetiu-se muitas vezes neste ano na Stock, ocasionando acidentes de menores proporções. Talvez a solução para aquele ponto esteja na adoção de um soft-wall, que absorve a energia do impacto evitando retornos à pista dos carros batidos. Além disso, um piso em asfalto de alta rugosidade ou mesmo uma caixa de brita poderiam diminuir a velocidade do carro e minimizar os riscos de um acidente nessas proporções.
Um segundo ponto importante é a segurança dos carros de Stock Car. Já passou do tempo de haver um compromentimento maior com a Responsabilidade Técnica na Stock Car Brasil. Os chassis tubulares em forma de gaiola são fabricados em liga de aço cromo-molibdênio, de alta resistência mecânica. A geometria da gaiola é projetada (a princípio) para que se proteja o piloto de capotagens. Entretanto, até onde as equipes assumem a responsabilidade de sua estrutura? Percebe-se grande preocupação em acertos de pneus, suspensões, motores, freios. Mas pouco se ouve falar na evolução da segurança no habitáculo do piloto. É urgente a necessidade de um programa de de otimização da estrutura dos carros através de estudos de simulação numérica, para simular situações extremas de impacto e também de ensaios práticos, como crash tests.
Numa categoria tão evoluída e que atrai tanto a atenção de público e patrocinadores é inconcebível que certas decisões técnicas sejam tomadas por "preparadores" e não por engenheiros que têm responsabilidade técnica para tal. Estamos cansados de ver equipes importando profissionais alemães, argentinos, americanos para fazerem ajustes de última hora. Por que não confiar nos profissionais nacionais e nos Institutos de Engenharia brasileiros que poderiam fazer este trabalho de otimização do chassis sem grandes custos?
Enquanto essas medidas não forem tomadas, a Stock Car Brasil continuará interrompendo o sonho de jovens pilotos como Rafael Sperafico.
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