terça-feira, 29 de abril de 2008

Anatomia: Acidente de Kovalainen


O episódio mais espantoso nesta temporada certamente foi o acidente de Heikki Kovalainen durante o GP da Espanha disputado no último domingo. O piloto da McLaren perdeu o controle do carro na curva Campsa, atingindo violentamente a barreira de pneus. Apesar da violência do choque, Heikki não sofreu ferimentos graves. Vamos acompanhar os detalhes deste episódio assustador, mas que felizmente, não teve maiores consquências.

1 - O local

Heikki escapou da pista na curva Campsa, conhecida por ser rápida e traiçoeira. Esta curva à direita é de alta velocidade e normalmente contornada a mais de 240 km/h. A Campsa é um ponto crítico da pista pois exatamente no ponto de frenagem para a tomada da curva, há uma ondulação que prejudica a estabilidade do carro.

2 - A Falha


Observando as imagens da câmera on-board de Kovalainen percebe-se que o piloto fazia o traçado normalmente, sem apresentar nenhuma anormalidade na sua pilotagem. Etretanto, na entrada da Campsa, algo falha de forma repentina na roda dianteira esquerda, provocando estouro do pneu. Kovalainen perde totalmente o controle do carro e escapa da pista a mais de 230km/h .

3 - A Causa


A falha da roda, fabricada em liga de magnésio, teria sido causada por detritos da pista que no decorrer da corrida teria causado uma espécie de desgaste na roda ou na sua calota provocando algo como um "corte". Isto teria levado ao estouro do pneu, facilitado por sua maior solicitação, já que no ponto de frenagem da Campsa há uma ondulação no asfalto.

4 - O Impacto


O carro de Heikki Kovalainen deixa a pista a 240 km/h. Após a passagem pela área de escape, o carro atinge a barreira de pneus em ângulo quase frontal a 130km/h. O carro desacelerou de 130 a 0 km/h em apenas 100 milisegundos. O impacto teve força equivalente de 27g. Antes de chocar-se, Kovalainen ainda conseguiu tirar as mãos do volante e assumir posição defensiva, colocando os braços junto ao corpo. Mais da metade do McLaren fica sob a barreira de pneus.

5 - O resgate


Com o carro preso, enterrado sob os pneus, os fiscais de pista desesperam-se pois não conseguem visualizar a cabeça do piloto nem retirar a pesada armação de pneus sobre ele. É necessária a ajuda de uma grua. Nesse momento, a principal preocupação é a de supostas lesões na cabeça e pescoço do piloto. Após certa demora, a grua consegue retirar o carro de Kovalainen. Devido o impacto, Heikki perdeu a consciência por alguns instantes. Imediatamente são iniciados os trabalhos de retirada do piloto do carro. O assento do carro é retirado completamente e o pescoço do piloto é imobilizado. Hekki é levado de helicóptero ao hospital para fazer exames complemenares.

6 - A Salvação
Além de Deus, outros três componentes salvaram a vida do piloto finlandês: a célula de sobrevivência, o HANS e assento e a altura do habitáculo do piloto.
  • Célula de sobrevivência: estrutura contínua e fechada que contendo o cockpit e o tanque de combustível. Fabricada em fibra de carbono e alumínio, tem uma estrutura dianteira de absorção de impactos que suporta batidas frontais de até 20 toneladas.
  • HANS e assento do piloto: O HANS é o suporte que impede movimentos bruscos da cabeça do piloto em fortes impactos. Além dele, os corredores contam com um assento totalmente projetado para facilitar as situações de resgate, com receptáculos que permitem receber cintos e dispositivos de estabilização de cabeça usados pelas equipes de socorro.

  • Altura do habitáculo: este ano uma nova regra estabeleceu que a altura da lateral do habitáculo seria maior para proteção da cabeça do piloto. Certamente, ela contribuiu para apoiar melhor a barreira de pneus e aliviar a carga do pescoço de Kovalainen enquanto o resgate não chegava.

7 - O que sobrou

Pouca coisa. O carro da McLaren estava totalmente destruído. Ainda assim, percebe-se que a região do cockpit permaneceu inteira. A dianteira, entretanto, foi completamente danificada no impacto. Não se consegue nem visualizar a região da pedaleira.

8 - Consequências

Com a energia do impacto, Hekki ficou momentâneamente inconsciente. Entretanto, durante o socorro já havia recobrado a consciência. No hospital passou por exames de tomografia e ressonância para detectar fraturas e hemorragias. Foi detectada apenas uma leve concussão cerebral causada pela desaceleração. O piloto passou a noite no hospital em observação e após passar por novos exames neurológicos, foi liberado. Quem observa o acidente não imagina que ele tenha escapado apenas com uma leve dor de cabeça e um torcicolo. Aguarda recuperação para correr em 2 semanas.

9 - Conclusões


Em menos de 1 ano a F1 testemunha novamente um acidente grave e assustador em suas corridas. Entretanto, mais uma vez o piloto saiu praticamente ileso de um choque violento. O quesito segurança veicular foi o que mais se desenvolveu na F1 ultimamente. Graças aos softwares de simulação, aos testes de impacto e também à utilização de novos materiais. Mas ainda existem preocupações sobre os circuitos. Muitas pistas ainda têm pontos perigosos que não são seguros o suficiente.

Na Campsa, há necessidade urgente de corrigir a ondulação da pista e também aumentar a área de escape, para que os carros possam diminuir mais a velocidade antes de encontrar o muro. Outro ponto em discussão é a adoção dos soft walls, já populares nos circuitos ovais americanos, pois amortecem os choques com mais eficiência e segurança que as barreiras de pneus.

Vídeos

Este é o vídeo da batida de Kovalainen. Percebam a falha na roda dianteira esquerda pela câmera on board.

http://www.youtube.com/watch?v=UcNedO_BO98

Este vídeo de um torcedor mostra o que a TV não mostrou. O momento em que o carro de Kovalainen é retirado da proteção de pneus.

http://www.youtube.com/watch?v=WlXT3XFlYvk

O vídeo seguinte mostra Kovalainen saindo do hospital após a alta.

http://www.youtube.com/watch?v=0J8_zaMQqUI

12 comentários:

Marcelonso disse...

Salve meninas

Como sempre ,vcs deram um banho em informação.
Ah! vcs tb foram adicionadas no blog.Concordo tb que existe a necessidade de melhorar a segurança nessa curva,ainda mais tratando-se de um circuito que recebe testes de F1 regularmente.

um grande abraço

Priscilla Bar disse...

Meninas,

Outra coisa que foi essencial...o chefe de segurança de Montmelo pediu pra pôr naquela curva, 2 "camadas" mais de pneus.Eram apenas 3 filas e pro Gp já eram 5.Ou seja,coisa de Deus mesmo.

Anônimo disse...

Olha, é a primeira vez que vejo alguem (tem plural para este pronome?) debulhar e esmiuçar tão bem um acidente...
Deu para entender e até para se arrepiar pensando o quanto foi bom não estar no carro.

F1 Trulli disse...

muito massa essa “anatomia”
a F1 (carro, circuito assistência) ta bem preparada para esses acidentes, + foi preocupante o acidente (Kovalainen tava “enterrado” naquela amontoado de pneus), acho tb pela demora no atendimento (foi o ponto onde pecaram e tiveram muitas críticas
sobre isso) aí fez um suspense.

p.s. a briga Trulli e webber ta tão interessante q fiz até um gráfico rsr

abraços

Unknown disse...

o post foi tão bem feito que depois de ler achei muito pouco fazer um comentário
então fiz um post-homeajem para vocés
sou médico e tento explicar que o atendmento realmente não foi demorado

parabéns meninas, F1-V8 está cada vez melhor!!!

Loucos por F-1 disse...

Relmente o quesito segurança na F1 está cada vez melhor. São 14 anos sem mortes na categoria.

Meus parabéns pelo post!

Leandro Montianele

F1 NA GERAL disse...

nossa, então o kova chegou a desmaiar...essa informação eu ainda não sabia.
Em todo caso foi uma senhora cassetada e por um milagre msm saiu só com algumas dores de cabeça e ematomas no cotovelo.

Blog F1 Grand Prix disse...

O Kovalainen teve muita sorte de sair dessa. Ótimo o post de vocês: esse vídeo dele sendo retirado do carro eu não tinha visto ainda! Vamos ver agora se o Kovalainen já vai poder participar do G.P. da Turquia...

Grande abraço!

Gustavo Coelho

Juliano "Kowalski" Barata disse...

Belíssimo post, muito completo. Recomendei a leitura em meu blog!

O acidente do Kovalainen mostrou bem por quê cada vez mais têm se adotado áreas de escape asfaltadas ao invés de brita ou grama: o asfalto permite que o piloto desacelere o carro com maior eficácia utilizando os freios. Por outro lado, também permite que o carro continue na corrida, favorecendo uma pilotagem displicente.

A questão dos soft-walls. Creio que eles sejam mais recomendados em regiões críticas onde não há área de escape, pois evitam que o carro seja arremessado de volta à pista, o que traria consequencias potencialmente mais trágicas.

Em lugares onde há área de escape, as barreiras de pneus ainda oferecem uma desaceleração menos abrupta ao piloto, mas para isso é preciso que o carro acerte a barreira de pneus, e não entre debaixo das mesmas (risos)!

Uma possível solução seria instalar as barreiras de maneira que fiquem um pouco mais baixas que a superfície, impedindo que o carro penetre por baixo da barreira.

[]s!

Anônimo disse...

Adorei a fisionomia do post!! rs

Realmente um show de informação....

Ta de parabens!

Octeto Racing Team disse...

Meninas!!!

adorei o post!!!!
Valeuuu!!!

Bjinhos do Octeto

Tati

Blog F1-V8 disse...

Agradecemos todos os comentários e elogios!!