quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Nossos GP Brasil de F1 - Parte I


Desde muito pequena acompanho a Fórmula 1. E certamente, sempre quis fazer parte daquela festa toda, ver a corrida bem de pertinho. Quando tinha 10 anos, via aquela vitória incrível de Ayrton Senna no GP Brasil de 1993. Era inacreditável aquela festa toda na arquibancada, o povo invadindo a pista, os carros passando ali pertinho... Neste dia decidi, no ano seguinte estaria lá. Juntaria cada centavo de troco da padaria e o dinheiro do lanche na escola e compraria minha entrada! Mas não era tão fácil assim... Chegou 1994 e eu não tinha nem 10% suficientes para bancar o ingresso. Essa temporada passou, Senna, meu grande ídolo se foi, chegou a era Schumcher... O tempo foi passando, o preço do ingresso aumentando e eu vendo o GP Brasil da TV, ano após ano.

O mais engraçado era que nós (Giselle e eu) fazíamos a "Poupança Interlagos" todos os anos. Mudávamos apenas o ano no cabeçalho do papel usado como controle. De 1998 passou para 1999, depois 2000, 2001. Entrei na faculdade. E a economia continuava... Até que em 2002, o montante já era de respeito!!! Daria para comprar as entradas! Nessa hora o PAItrocínio entrou em ação para viabilizar o restante da viagem. Nem acreditei quando liguei no telemarketing do banco real e pedi nossos ingressos (neste tempo a venda era somente por telefone). Setor A, domingo. Dez anos de espera (e economias) e eu finalmente veria a F1 de pertinho! A partir daí foi só sonhar com o glorioso dia, imaginar a sensação de ouvir aquele estrondo de motor pertinho de mim, ver os carros passarem como uma bala!

Foi tanta ansiedade que no dia da viagem, dei DEFEITO! É, surtei mesmo! Acordei de madrugada suando frio e tremelicando dizendo que não iria mais! Que ficaria em casa mesmo. Que tava com dor de barriga. Nisso, todas prontas, minha mãe, minhas irmãs e uma amiga que também iriam estavam prontas. E eu surtada! Minha irmã mais velha, que é médica, não pensou duas vezes. Me sedou e assim fui, quase inconsciente para o avião... Que papelão...



A agitação que São Paulo fica no GP Brasil é totalmente contagiante! Acho que isso não ocorre em nenhuma outra parte do mundo... Só se fala em F1... Mesmo no início do campeonato, como foi em 2003, todos falavam em Schumacher, Montoya, Barrichello, Raikkonen. Achei aquilo tudo INCRÍVEL! O sábado passou rápido (acho que por causa do pileque de sossega-leão que tomei). Quando vi, já estava acordando no domingo, às 4 da manhã, pronta para ir para Interlagos. A ansiedade era tanta que eu não consegui comer nem nada. Se pudesse, voaria para lá e pousaria dentro dos pits de alguma equipe.

Mas ao chegar ao aeroporto de Congonhas, onde pegaríamos os ônibus/vans para irmos ao autódromo, surpresa!! Os trabalhadores dos trasportes resolveram entrar em greve, justo no dia da corrida de Fórmula 1! Juro que mato o sindicalista que inventou essa greve absurda!! E agora?? Nessa hora a minha crise de tremelique voltou! Os taxistas estavam cobrando até 120 reais por pessoa para transportar até o autódromo. E nós lá, 5 mulheres com cara de tacho. Até que minha amiga Jana encontrou um taxista que ficou com pena de nós (na verdade, pena de mim) e topou levar as 5 pelos mesmos R$120,00 que os outros cobravam por cabeça. Como a avenida Interlagos estava cheia de fiscais da CET que proibem 4 passageiros no banco de trás, nós revesávamos quem iria abaixada nos pés ou dentro do porta malas. Chegamos lá ainda antes das 8 da manhã e já estava tudo lotado, ainda na avenida. Quanto mais me aproximava do autódromo, mais forte o coração batia! Logo reconheci os predinhos do conjunto habitacional Cingapura, que vemos nas transmissões da corrida. E lá estava a pista que eu sempre sonhei. Linda, cheia, as zebras pintadinhas. Era verdade, eu estava lá!
A entrada nem teve muita confusão... Minha memória é meio falha em relação aos momentos anteriores à corrida (deve ser reação normal ao dopamento sofrido no dia anterior). Entramos e lá estava eu, no setor A de Interlagos. Logo identifiquei alguns pontos importantes da pista. A Reta Oposta e o setor G, já lotado às 08 da manhã. O miolo do laranjinha, uma descida, a suida da Junção, a curva do Café. A reta. Pena que de onde eu estava não dava pra ver o S do Senna. Tudo lindo, tudo maravilhoso! Vontade de morar lá pra sempre! Abracei a minha mãe, liguei para o meu pai, que ficara em Brasília. Sonho realizado!

Mas como essa história tem salpiques de tragédia e comédia, o tempo, começou a preocupar. Já eram 10 da manhã e o sol ainda não havia dado as caras. As nuvens, carregadas. Comecei a ficar cabreira. Mas por enquanto estava tudo bem, matei o tempo comprando souvenirs nos quiosques das equipes. Até que lá pelo meio dia, perto da hora do desfile dos pilotos começou um pinga-pinga. E os pingos cada vez mais grossos, doendo quando atingiam nossas costas. Capas de chuva pra que te quero! Vestimos as capas, mas o céu desabou em cima da gente! Chovia tanto que o pessoal do Setor A já não conseguia enxergar o povo que estava no G. Um verdadeiro dilúvio, só que sem direito à Arca de Noé! E eu chorando desesperadamente (claro, com tanta chuva, eu estava surtada!!). Logo as capas de chuva se tornaram inúteis perto de tanta água. Havia uma cachoeira nas arquibancadas e estavam todos de pé nessa hora, com chuva batendo bem no meio das fuças. Até respirar tava difícil! Agora o que estava em risco era a largada. Nenhum carro ainda havia deixado os boxes. O Safety Car dava voltas e voltas na pista e todos olhavam aterrorizados, com medo da corrida ser cancelada! Até que o Safety Car passou, autorizando a saída dos carros para o grid de largada.

Até hoje lembro do primeiro carro que vi passar. Foi uma Williams de Ralf Schumacher, o primeiro que saiu dos pits para alinhar no grid de largada. Aquele barulho alto, forte. O carro estava na reta oposta e parecia que estava no seu cangote. Nunca tinha visto nada igual. Incrível! Com os carros alinhados, mais um pé d'água caiu. Esse mais forte que o primeiro. A largada foi adiada em 15 minutos e depois desse período, a direção de prova decidiu que os carros largariam com o SC. Ai meu Deus, logo na minha primeira corrida, não haveira largada. Comecei a tremelicar de novo! Mas mesmo com velocidade reduzida, atrás do Safety Car, com pista molhada a F1 é impressionante. Mesmo assim eles estavam estupidamente rápidos!


Nisso o povo fazia o que podia para se proteger da chuva. Alguns (como a Jana e a Soraia, minha irmã mais velha) assistiram boa parte da corrida dentro do banheiro químico, furando buraquinhos na parede (elas estavam com mais umas 20 pessoas lá dentro, pense num aperto). A corrida ia seguindo, com muitas rodadas e acidentes, inclusive a saída de Schumacher na Curva do Sol, comemorada por boa parte da torcida. Tudo ia bem (tirando a chuva torrencial) até que escutei do nada um estrondo, parecendo que o mundo iria cair. Quando dei por mim, vi a Jaguar de Mark Webber rodando após bater na curva do Café, pertinho de onde eu estava. A nossa preocupação era contar quantas rodas estavam no chão ou voando, e ficamos preocupadas quando demos conta de que haviam apenas 3. Onde estaria a quarta? Caindo na nossa cabeça (claro, com a F1, aprendemos a raciocinar em milésimos de segundo)? Até que ouvimos outro estrondo, era Alonso encontrando a 4ª roda perdida de Webber. Esse acidente fou horrorozo, o carro dele saiu girando, desgovernado, bateu na proteção de pneu no lado oposto da pista e voltou! Nós estávamos estarrecidos e aterrorizados. A cride de tremelique voltou e não era só em mim, todo mundo à minha volta também estava horrorizado. A gi virou e perguntou: Ele morreu? Nós morremos também? Na arquibancada todos tentavam sinalizar para os carros que passavam para irem com calma. Nisso, a Soraia, minha irmã médica, já estava lá embaixo, tentando escalar a grade (ai que vergonha) para atender o Fernando Alonso que saiu do carro sozinho, mas caiu logo em seguida. O momento médico sem fronteiras da minha irmã passou assim que o carro médico chegou para atender o espanhol.

Lição nº1: Fotos em corrida saem sempre ruins!
Quando dei por mim, a bandeira vermelha estava sendo agitada, ou seja, fim de corrida! Mas peraí, quem ganhou? Na hora divulgaram que o vencedor havia sido Kimi Raikkonen (para alegria da Gi, que gritava o nome dele frenéticamente). Na confusão todos saímos do autódromo após o anuncio do vencedor. Meio dopada fui para o aeroporto de Congonhas (lotado e sem comida) para pegar o voo de volta pra Brasília. Eu ainda baqueada por tanta emoção estava estática, sem reação. Não tinha fome nem sede nem cansaço. Mas estava muito feliz! Sonho realizado.

Em 6 de abril de 2003, me encontrei pessoalmente com a F1 pela primeira vez. Numa corrida maluca, com dilúvio, sem largada, sem chegada, com apenas metade dos carros chegando ao final e com vencedor errado fiz a minha estreia na Fórmula 1. Mesmo sendo a corrida mais maluca de todos os tempos, valeu a pena e nunca esquecerei desse dia tão especial.

3 comentários:

Gaby disse...

Q radical vc! :D

www.girlsvintage.blogspot.com

Ron Groo disse...

Eu ainda não tive esta experiencia, mas com certeza não amarelarei. hahahaha.

E este ano? Cês vão lá?

Blog F1-V8 disse...

Vamo nada!

Não conseguimos ingresso e tô numa sinuca de bico entre congressos e defesa de mestrado...

Vai ficar pra 2010